sábado, 5 de fevereiro de 2011

Entrevista com Rob Rock

Rob Rock é um dos meus vocalistas de Heavy Metal favoritos. Além de ser um dos vocalistas mais talentosos e versáteis do mundo, e de ter uma consolidada carreira no mundo do Heavy Metal, Rob é um fervoroso cristão e uma gentileza de pessoa. Com toda disponibilidade do mundo me concedeu a entrevista abaixo, onde falamos sobre sua carreira, sobre música, sobre família e até sobre Escatologia.
Eliel Vieira: Então Rob, já faz aproximadamente um ano desde o lançamento do seu CD/DVD ao vivo. O resultado final e a repercussão do material foram conforme suas expectativas?
Rob Rock: Eu esperava uma boa reação por causa do longo tempo que os fãs esperaram pelo CD/DVD ao vivo do Rob Rock e o feedback tem sido ótimo! Os fãs amaram o trabalho após terem esperado tanto tempo por algum trabalho ao vivo do Rob Rock. O CD/DVD foi um marco para mim pessoalmente porque demorou muito para conseguirmos uma gravadora disposta a lançar o CD e o DVD ao vivo. Eu gravei vários álbuns de estúdio e participei de vários outros e agora eu tenho um show ao vivo que me apresenta aos fãs que não tiveram a oportunidade de me assistir em um show ao vivo ainda. Eu estou muito feliz com os resultados e a reação do público ao último lançamento do Rob Rock.
Eliel: E qual foi o critério para a escolha das músicas deste show? Eu imagino que foi difícil deixar de fora algumas ótimas faixas por causa do tempo. (Pessoalmente eu não consegui entender como músicas excelentes como “Calling Angels” e “Holy Hell” puderam ficar de fora.)
Rob: Estabelecer o setlist foi uma tarefa muito difícil. O principal problema era que nós tínhamos apenas uma hora para apresentar o show e filmá-lo naquele festival. Aquele era o melhor local então nós queríamos filmar o DVD naquele dia. Não pudemos portanto encaixar muitas canções, não apenas do trabalho solo, mas também de outros trabalhos que os fãs gostariam de ouvir do Impellitteri, Driver e M.A.R.S. Então o principal critério que utilizamos foi de pegar músicas que tinham uma boa performance quando executadas ao vivo. Nós também queríamos tocar algumas faixas do meu último trabalho solo para os fãs que já nos tinham visto tocar antes.
Eliel: Entendo… mas uma música que nunca deixa de aparecer em seus shows é a clássica “I’m a Warrior”, a assinatura do seu trabalho. Parece que você executa esta música em todos os shows de suas bandas. Parece também que ela já apareceu em um bom número de álbuns…
Rob: Eu gravei esta música em várias variações musicais, mas a melodia e as letras permaneceram quase as mesmas. Eu já gravei esta música com Rob Rock (solo), Impellitteri e Driver ao longo dos anos.
Eliel: Você poderia me falar sobre sua mensagem?
Rob: A letra desta música é uma sequência de um sonho sobre um cenário de fim do mundo, e que existe esperança de que alguém vai aparecer lá para lhe mostrar o caminho.
Eliel: Legal! Eu não tinha percebido isto ainda em “I’m a Warrior”. Bem, parece que você gosta de abordar esta questão do fim do mundo nas letras de suas músicas. “First Winds of the End of Time”, “Only a Matter of Time”, “Eyes of Eternity” e “Judgement Day” também contém questões escatológicas em suas letras. Existe alguma razão específica para esta preferência?
Rob: Bem, eu leio a Bíblia. Os Evangelhos que mencionam isto, o Apocalipse, e as profecias sobre o fim dos temos me intrigam. O bônus é que esta questão se encaixa perfeitamente com os riffs pensados e a produção da musical do heavy metal. Eu gosto de cantar sobre assuntos mais pesados e profundos do que o que geralmente se canta no rock n’ roll. Eu também gosto dos aspectos espirituais e as imagens.
Eliel: Bem, algo que eu achei bem interessante em alguns dos seus álbuns solo foram os covers do grupo Abba que você gravou, “Eagle” e “Move on”. Eu suponho que Abba foi a banda da sua infância, certo?
Rob: Nem tanto… eu os ouvia eventualmente, mas minha preferência mesmo era Led Zepplin e Bad Co. Foi o produtor Roy Z que sugeriu que eu gravasse as músicas do Abba, já que eles têm algumas músicas conhecidas mundialmente. Nós esperávamos que estas versões abrissem as portas para a banda em países distantes como na América do Sul, Alemanha, etc., onde o Abba ainda é grande até os dias de hoje.
Eliel: Sim, o Abba é um grande grupo clássico aqui no Brasil. Mas, ainda sobre suas influências, a banda Stryper está lançando este mês um álbum com vários covers de algumas bandas que influenciaram eles musicalmente (como Iron Maiden, Kansas, Led Zepplin, Judas Priest, etc.) Se você fosse convidado a gravar um álbum semelhante, precisando escolher uma dezena de canções de diferentes grupos que influenciaram você musicalmente, qual seria a lista?
Rob: Eu provavelmente pegaria alguma coisa do Zepplin, Styx, Priest, Nazereth, Grand Funk Railroad, Bad Co., Aerosmith, Boston, C.S.N.Y., Steppenwolf, Skynyrd, e Blizzard of Oz. A maioria destas bandas eu comecei a ouvir da adolescência quando eu tocava bateria e cantava nas minhas primeiras bandas, quando o rádio reinava nas casas e no trânsito.
Eliel: As coisas mudaram um pouco… Agora o Heavy Metal simplesmente não tem mais espaço nas rádios, e o rádio perdeu o reinado para o mp3. A controvérsia sobre o mp3 é bastante debatida entre os músicos. Na música “Metal Breed” você diz que “Cada download no computador estimula a cena do metal”. Você discorda daqueles que argumentam que o mp3 está “matando a cena”?
Rob Rock
Rob Rock
Rob: Existem dois lados na questão do mp3. Eu acho que ambos estão corretos. O mp3 está matando o antigo modelo de distribuir música, mas este formato está também trazendo ao nascimento outro modelo de distribuir música. Eu acho que o velho modelo das gravadoras e da venda de música no formato do CD em caixinha de acrílico está de fato morrendo e “matando a cena” como você disse. A questão é: Qual é a “nova cena”? Eu penso que estamos num período de transição e ninguém, nem mesmo as gravadoras, sabem qual será o melhor formato daqui para frente. Para os artistas consagrados do modelo antigo, a cena está morrendo. Para talentos ainda não descobertos, a cena está desabrochando, porque qualquer banda nova não precisa de gravadoras para ser ouvida e assistida na internet hoje. Para os artistas clássicos, eles na verdade estão vendo um ressurgimento de suas canções quando elas são convertidas do CD para o mp3 e são redistribuídas para uma nova platéia. O Metal surgiu como um forasteiro na indústria da música, e como todos os demais gêneros musicais de hoje, ele tem a chance de ser ouvido na nova era da distribuição musical. O principal problema que eu enxergo é que os músicos não podem mais viver da música que fazem atualmente, quando suas músicas são disponibilizadas gratuitamente na internet por sua escolha ou pela escolha de quem disponibiliza o arquivo. O músico antigamente trabalhava muito para conseguir assinar com uma gravadora que então criava um sistema para sustentá-lo, de forma que ele pudesse fazer da música seu trabalho, e agora este modelo está desaparecendo rapidamente, especialmente quando as gravadoras no estado atual do mercado não conseguem mais fazer dinheiro para conseguir se sustentar ou manter seus artistas. Agora você vê música combinada com vídeo, combinada com redes sociais, combinada dom televisão, etc., e a impressão de revistas está ficando para trás no processo. Então mesmo que a maneira como as pessoas escutem música agora esteja transformando, neste processo os velhos modelos estão morrendo para o nascimento de outros modelos experimentais. Parece-me que o velho modelo do mercado musical é uma semente e que nós ainda não sabemos quais os frutos vão emergir do novo solo da era da internet. O Itunes foi o primeiro fruto a surgir, mas ele vai permanecer no mesmo formato ou ainda está florescendo? Eu penso que ele ainda precisa florescer e dar origem a um modelo melhor que recompense os músicos e os artistas de forma que eles possam dedicar todo o tempo que têm para criar belas obras para nossa cultura curtir.
Eliel: Você disse que um músico não pode atualmente viver da música que ele produz. Especialmente os músicos jovens e desconhecidos não podem simplesmente parar de trabalhar para produzir música, porque eles têm o aluguel para pagar e sua família para alimentar. Eu estava pensando… com o que o Rob Rock trabalha?
Rob: Bem, o nome Rob Rock tem estado bem ativo desde o lançamento de M.A.R.S. em 1986, então eu tenho uma vantagem sobre os novos músicos que estão tentando se profissionalizar na música nos dias de hoje. Rob Rock é um artista já estabelecido, que tem fãs leais que foram conquistados através de anos de lançamentos e turnês. Se um músico está começando agora, não há como ele mostrar a uma gravadora quantas unidades ele pode vender ou qual interesse ele vai despertar com um novo lançamento, porque as vendas de CDs estão caindo e se transformando em downloads de arquivo. O download não é o mesmo que vender um “produto” como um CD. Atualmente as gravadoras estão oferecendo a distribuição dos CDs de alguns artistas proeminentes, mas não há dinheiro disponível para pagar a produção dos álbuns ou alimentar os músicos. Esta é uma tendência e uma ameaça para que a música seja tomada como um sustendo para o músico. Eu espero que alguém desenvolva um modelo que funcione tanto para os músicos quanto para as gravadoras, então nós poderemos voltar aos músicos profissionais e às produções de alta qualidade, diferentemente das gravações caseiras e dos artistas que dividem seu tempo com o trabalho fora.
Eliel: Uma inovação muito interessante na cena são as chamadas “metal operas”. Desde Avantasia nós temos sido presenteados com trabalhos muito interessantes neste estilo. Você participou dos dois primeiros álbuns da banda Avantasia. Como foi esta experiência de cantar juntamente com grandes vocalistas de Heavy Metal do mundo?
Rob: Minha experiência foi muito restrita em certo sentido. Eu fui um dos primeiros a gravar com Tobias e eu tinha apenas uma demo e uma gravação de cada uma das quatro músicas para trabalhar. Eu nem sabia quem mais participaria deste álbum. Naquela época era para ser apenas um álbum. Com o tempo outro álbum foi elaborado e as quatro músicas em que cantei foram distribuídas em duas para cada. Então, eu acho que foi muito bom para mim, mesmo eu não podendo ter tido a chance de conhecer os outros caras pessoalmente. Eu fiquei muito feliz quando vi que os outros vocalistas que participaram nos álbuns eram todos de primeira classe e grandes vocalistas.
Eliel: Na música “Sign of Cross” do Avantasia você canta junto com o vocalista brasileiro Andre Matos (ex-Angra, ex-Shaman), e recentemente no México você conheceu Germán Pascual, que é um vocalista mais ou menos brasileiro (ele na verdade nasceu no Uruguai, mas mudou para o Brasil aos 2 anos de idade). Você tem acesso a bandas ou projetos brasileiros? O que você escuta sobre a cena brasileira?
Rob: Foi ótimo conferir as faixas já concluídas e ouvir André lá! Também foi ótimo conhece Germán no México alguns meses atrás. Ambos os vocalistas são fantásticos e eu ouço muito do Brasil de Roy Z quando estamos fazendo alguma coisa juntos. Na verdade Roy está no Brasil neste momento trabalhando no novo álbum do Sepultura. De tudo o que tenho ouvido, o Brasil é ótimo, e eu amaria ir aí assim que puder.
Eliel: Bem, como você levantou esta questão, você nunca veio ao Brasil, embora já tenha feito shows algumas vezes no México. Algum produtor brasileiro já te contatou alguma vez para alguma turnê aqui? É difícil agendar uma turnê com o Rob Rock?
Rob: Já falamos com produtores diferentes duas vezes nos últimos cinco anos, mas no fim alguma coisa deu errado com o lado financeiro e as turnês nunca aconteceram. Este último show no México aconteceu, mas não conseguimos encaixar outras datas na época. Eu acho que o problema é conseguir juntar várias datas na América do Sul de forma que a turnê seja financeiramente vantajosa para os produtores. Então eu ainda espero tocar aí em breve. Eu tenho ouvido que é uma grande experiência!
Eliel: Seu último trabalho solo de estúdio, “Garden of Chaos”, foi lançado em 2007. Desde este álbum fomos presenteados com o projeto “Fires of Babylon”, “Sons of Thunder” do Driver, “Wicked Maiden” do Impellitteri e obviamente seu CD/DVD ao vivo. Você está trabalhando em um novo álbum do seu projeto solo ou você está atualmente focado em algum outro projeto paralelo?
Rob: Eu fiz uma participação especial do álbum “Dragon Fire” do meu amigo Mistheria, que gravou os teclados nos meus álbuns solo. Eu estou ansioso pelo próximo lançamento solo da banda Rob Rock, mas até o momento eu não tenho nenhum detalhe sobre ele. Eu tenho alguns planos sobre um novo álbum para o Driver e também temos algumas datas com o Impellitteri este ano.
Eliel: Legal, mas eu ainda estou ansioso em ouvir um novo álbum solo seu. Eu tenho minha última questão agora, e ela é sobre as últimas faixas do seu álbum “Garden of Chaos”. Você finaliza este pesado álbum com duas canções de amor, uma sobre o amor incondicional de um casal diante das dificuldades e dos problemas, e a outra é uma dedicação ao seu filho Alexander. Eu achei muito interessante você terminar este pesado álbum com estas músicas bem calmas e melódicas sobre sua mulher e seu filho. Eu ouvi certa vez eu quando se tem uma família (mulher e filhos), toda nossa existência passa a se limitar a ela… Eu não tenho esposa ou filhos ainda, mas eu acho que consegui enxergar isto neste álbum…
Rob: Sim, eu acho que a família realmente traz esta nova perspectiva para a vida de alguém. De repente as coisas não são mais sobre “você”, mas sobre toda sua família. Sempre que eu escrevo minhas músicas eu as faço com meu coração, então a forma como “Garden of Chaos” termina apresenta o que realmente é importante na minha vida. Eu também gosto de cantar de diferentes formas além do Heavy Metal. A maioria dos vocalistas não tem esta versatilidade, seja pela própria voz deles, seja pela imagem que eles querem manter de gritador Heavy Metal. Para mim, o termo “Metal Melódico” cobre toda esta faixa de interesses musicais que tenho, e quando eu fui considerado pela mídia européia como “A voz do Metal Melódico”, eu fiquei muito feliz de enxergar isto.
Eliel: Obrigado pela entrevista! Alguma palavra para os fãs brasileiros?
Rob: Por nada! Para meus fãs e amigos brasileiros eu digo “Muito obrigado!” por todo o apoio durante todo o curso de minha carreira, e obrigado pelo apoio contínuo no futuro. Eu realmente quero tocar no Brasil em breve, então que tenhamos esperança de que isto vai acontecer. Estou ansioso para conhecer todos vocês!
Fonte – Eliel Vieira
http://www.cmfreak.net/post/entrevista-com-rob-rock/

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