segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Quando religião vira música boa.

Regis Tadeu

Por Regis Tadeu . 22.08.11 - 17h59

Quando religião vira música boa – parte 1

Assim como há a liberdade de culto no Brasil, entendo também que há a liberdade para externarmos nossas opiniões a respeito de um assunto que para muitos é o mais “espinhoso” da história: a religião.
Bem, se você acha que isto vai servir de introdução para que eu comente a respeito da crença das pessoas, pode tirar o cavalo da chuva. Você pode acreditar em quem você quiser: Deus, Buda, Nossa Senhora da Aparecida, o capeta, Lemmy, Michael Jackson, Serginho “Chulapa”… Por mim, você pode até ser devoto de charutos cubanos. Cada um coloca a sua crença em quem mais lhe convém e fim de papo. Nossa conversa aqui será outra…
Durante os 15 anos em que foi editor e diretor de redação de revistas musicais voltadas a instrumentistas, não houve uma única semana em que não recebi dezenas de cartas – sim, sou um cara velho, não se esqueça – e e-mails de leitores com os mesmos pedidos: a) “por que vocês não fazem matérias com bandas evangélicas?”; b)“por que vocês não entrevistam músicos de bandas católicas?”; c) “por que não colocam transcrições de bandas satanistas?”, e por aí vai.
Minha resposta era – e ainda é – sempre a mesma: para mim, música não tem religião. Simples assim. Artistas relacionados a algum tipo de crença eram “matérias de pautas” quando um quesito básico era preenchido: se o trabalho do artista ou grupo era legal, se as composições eram boas e se os instrumentistas em questão eram competentes em seu trabalho. Nada além disto era levado em conta por mim e pelas equipes editoriais que eu comandei.
Este tipo de critério está comigo até hoje e, salvo alguma lavagem cerebral que eu venha a sofrer, vai me acompanhar até o dia em que eu virar um monte de cinzas dentro de um pote de madeira. E é justamente por isto que resolvi abordar um assunto que pouca gente fora do âmbito religioso – chamado de “secular” por algumas correntes religiosas – costuma prestar atenção: bandas e artistas que fazem um som tremendamente bom com base em suas convicções religiosas.
Abaixo, separei alguns de meus favoritos. Leia de novo, por favor: MEUS FAVORITOS. Eu poderia ter incluído na lista o U2, Elvis Presley, Ray Charles, Johnny Cash, Aretha Franklin e o Al Green, que sempre tiveram em suas canções uma mensagem religiosa, às vezes mais explícitas, às vezes mais sutil, mas os alvos aqui são aqueles que realmente construíram suas carreiras totalmente em cima de sólidos preceitos da crença de cada um. Em uma das próximas edições desta coluna, prometo trazer mais alguns nomes que considero essenciais para exemplificar este assunto.
Evidentemente, muita gente vai me xingar porque esqueci de fulano, cicrano ou beltrano, mas como sei que muita gente me xinga por qualquer coisa que eu escreva, então isto não faz diferença. Minha diversão será a mesma…
Pois bem, dentro desta ‘praia’ religiosa, meus destaques – sem ordem de preferência – são…
OFICINA G3
Disparado, é a melhor banda cristã do Brasil e, por que não, da América Latina. Junto com outros grupos, como Fruto Sagrado, Resgate e Katsbarnea, foi um dos primeiros responsáveis por injetar na música cristã o peso do rock. No caso do Oficina G3 – liderado pelo extraordinário guitarrista/vocalista Juninho Afram -, este peso vem aumentando à medida que a banda lança seus discos, sendo que o auge foi atingido no CD Depois da Guerra, lançado em 2009 e produzido pelos dois maiores especialistas em som pesado de nosso País: Heros Trench e Marcelo Pompeu, o guitarrista e o vocalista do Korzus, respectivamente.
Sem usar de artifícios explícitos para mandar suas mensagens por intermédio de letras bem elaboradas, os caras ainda dão uma caprichada na agressiva moldura sônica influenciada pelo chamado “metal progressivo”, como dá para sacar perceber em “Meus Próprios Meios” (clique aqui) e “Muros” (veja).

KING’S X
Um de meus favoritos em todos os gêneros. Também considerada como uma banda cristã, este sensacional trio americano tem mais de uma dezena de discos esplendorosos, em que suas crenças são colocadas de modo poético e condizentes com a exuberância musical que sempre apresentam.
Embora a religião estivesse mais explicitamente colocada nas letras de seus primeiros trabalhos e tenha se diluído um pouco ao longo dos discos posteriores, ainda assim é notória a orientação espiritual que acompanha o grupo.
O fato de o trio ter perdido muitos fãs e ter seus discos banidos das lojas especializadas em produtos cristãos dos Estados Unidos depois que o baixista/vocalista Doug Pinnick assumiu sua homossexualidade diz muito a respeito do quanto o discurso “todos são filhos de Deus” é conversa para boi dormir.
Independente disto, a música dos caras é não menos que espetacular, como provam canções como “Pray” (assista), “Alone” (veja) e “We Were Born to Be Loved” (assista).

THE BLIND BOYS OF ALABAMA
Se você conseguir assistir, sem se emocionar, a um show deste grupo gospel americano, liderado por três tiozinhos vocalistas cegos, pode ir a um legista e assinar o seu atestado de óbito. Tudo porque o som que esta turma de gaiatos faz desde os anos 50 (clique aqui) é de uma qualidade que beira o sobrenatural, misturando soul, blues, rock, country e até reggae em canções inacreditáveis de tão legais, como “Take the High Road” (assista), “Got to Move” (veja aqui) e “Down by the Riverside (clique). Quando pegam músicas dos outros, então, como “Higher Ground”, do Stevie Wonder (veja) e “People Get Ready, do Curtys Mayfield (assista), aí é covardia… Não é à toa que caras como Ben Harper, Lou Reed e até o Barack Obama ‘pagam pau’ para os velhinhos (clique aqui)…

KIRK FRANKLIN
Este excelente cantor, pregador e diretor de corais gospel tem uma interpretação sempre vibrante e uma habilidade rara em criar discursos religiosos por cima de bases dançantes que fazem o Prince parecer um batuqueiro de lataria de ônibus escolar.
Tente ficar parado vendo e ouvindo maravilhas como “Stomp” (veja), “Revolution” (assista) e “My Desire” (clique aqui). Não dá…

P.O.D.
Tem muita gente que acha que os caras são uma “versão gospel” do Korn. Ledo engano. O caldeirão sonoro deste grupo cristão é muito mais variado, cabendo generosas doses de rap e heavy metal, música latina, reggae… É como se fosse um amálgama sonoro de Bad Brains, The Police, Rage Against the Machine e Bob Marley.
Não dá para ficar imune a belas canções como “Youth of the Nation” (clique aqui), “Goodbye for Now” (assista) e “Southdown (veja) .

http://colunistas.yahoo.net/posts/13084.html

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